Zona das Águas: territórios periféricos e insulares se articulam rumo à COP30

Neste sábado, 1º de novembro, a Casa do Povo, em Belém (PA), recebe a Zona das Águas, uma iniciativa que reúne lideranças comunitárias, mestres, mestras, coletivos e organizações das ilhas de Cotijuba, Caratateua e Icoaraci em um movimento de articulação territorial rumo à COP30, conferência climática da ONU que será realizada na capital paraense em 2025. 

 

Fruto da parceria entre o Palmares Lab e o Coletivo CHIBÉ, a ação nasce como expansão do projeto Gateway das Periferias, forma metafórica para indicar um ponto de conexão, articulação ou acesso, uma espécie de “porta de entrada” que conecta experiências locais de comunicação, incidência e ativismo em rede, fortalecendo a presença das periferias amazônicas nos debates globais sobre justiça climática. A partir desse eixo, a Zona das Águas tem como propósito fortalecer vozes locais, construir agendas coletivas de incidência e reafirmar que as soluções para a crise climática também emergem das margens da Amazônia urbana.

 

O avanço do mar tem salinizado as águas potáveis, reduzido os peixes, aumentado as ondas de calor e secado as nascentes, transformações que ameaçam diretamente modos de vida e saberes ancestrais. Diante desse cenário, a Zona das Águas atua na incidência política para que esses territórios sejam reconhecidos como essenciais à adaptação e mitigação climática, não apenas pela sua riqueza ambiental, mas pelo protagonismo de mais de 200 mil habitantes quando somados.

 

A principal bandeira que guia essa articulação é o direito de permanecer. Para garanti-lo, as lideranças reivindicam financiamento climático real e efetivo, o que, em nível municipal, significa a destinação adequada do orçamento público aos distritos insulares. Hoje, a ausência de dados públicos atualizados sobre o número real de habitantes nas ilhas resulta em invisibilidade e falta de políticas públicas adequadas.

 

Defender o direito à cidade é também garantir acesso à cidade: transporte fluvial integrado, saúde, educação, trabalho digno, cultura e o reconhecimento das tradições de matriz africana como pilares da vida comunitária.

 

Os territórios da Zona das Águas são laboratórios vivos de tecnologias populares, saberes ancestrais e soluções próprias para a crise climática. O bem viver que esses povos constroem depende de infraestrutura, proteção, informação e participação. Por fim, a Zona das Águas reafirma o papel das juventudes como agentes de transformação — investir em políticas voltadas a crianças e jovens é investir na continuidade da vida nesses territórios e em novos caminhos para enfrentar a crise múltipla que atravessa o clima, a cidade e as relações humanas.

 

Programação completa

01 de novembro (sábado)
Local: Casa do Povo

14h00Mesa de abertura: Vozes periféricas na COP30 — Quem são os delegados periféricos na maior conferência de clima do mundo

15h00 – 15h30Diálogo: O que sabemos sobre segurança? — Mapeando a cidade durante a conferência

15h30 – 16h30Mesa final: Legados reais a partir das margens

16h30 – 17h40Apresentações artísticas com Flor de Mururé e Os Africanos de Icoaraci

 

“Este encontro nasce de várias inquietações sobre a importância de termos momentos coletivos entre Cotijuba, Icoaraci e Caratateua, buscando formas de nos fortalecer a partir dos nossos territórios. A Zona das Águas é uma maneira de nos articular em nível municipal, conectando esses três territórios de forma coletiva. A água é um lugar sagrado para todas as pessoas que hoje ocupam este espaço, assim como ela, estamos em movimento, nos encontrando e nos aglutinando coletivamente. Bibliotecas, terreiros e projetos sociais são lugares especiais, de paz e de construção. Estamos usando as Cartas de Direitos Climáticos de Caratateua e Icoaraci, junto com a cartilha de Cotijuba, para nos reconhecermos nas semelhanças e diferenças que existem entre nossos territórios”, pontua Kimberly Silva, Gestora de Projetos da Palmares Lab. 

 

A ação visa fortalecer a presença das periferias amazônicas nos debates globais sobre justiça climática

 

“É sempre uma alegria receber parceiros que acreditam no que estamos construindo aqui no território. A programação da Zona das Águas é uma grande oportunidade para nos olharmos, conversarmos sobre nossos sonhos, demandas e potencialidades, especialmente junto aos territórios vizinhos daqui de Icoaraci, que são Caratateua e Cotijuba. Esse encontro nos permite pensar novas soluções mais justas, dando protagonismo às nossas vozes e aos nossos sonhos sobre o que queremos construir coletivamente. Participar dessa programação me enche de ânimo, força e esperança. É maravilhoso ver o quanto podemos construir juntos, de forma colaborativa e viva”, frisa Talita Mendes, mobilizadora do Coletivo CHIBÉ,

“O encontro promovido pela Palmares foi maravilhoso, muito construtivo e potente. Muitas vozes foram ouvidas e aprendemos juntas, trocando conhecimentos e fortalecendo nossos territórios. Foi um espaço de saberes, escuta e valorização, importante para as ilhas de Icoaraci, Caratateua e Cotijuba. Que venham outros encontros como este”  Elizabeth Pantoja Mametu Muagile, Afro religiosa. 

 
Organizações envolvidas
  • Ilha de Caratateua: IBAMCA, Tralhoto Leitor, Casa Preta Amazônia e Terreiro de Mãe Jucy
  • Ilha de Cotijuba: MMIB e Templo Rompe Mato
  • Icoaraci: Espia Amazônia, EcoMuseu, Casa do Artista, Espaço Koringa e Coletivo CHIBÉ

Movimentando soluções locais, a Zona das Águas reafirma o papel dos territórios periféricos e insulares da Amazônia na construção de futuros sustentáveis e justos, onde as vozes das águas, das ilhas e das periferias ecoam no debate climático global.

 
Serviço

Data: 01/Novembro (sábado)
Hora: Portões abertos às 13:00 – Programação de 14 às 18h
Local: Casa da COP do Povo
Travessa Piedade, nº 426 Reduto Belém PA

Redes oficiais: https://www.instagram.com/palmareslab/

https://www.instagram.com/coletivochibe/ 

 

Redação: Tainá Barral

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