Comunicadores populares protagonizam debates sobre clima e desinformação na 4ª edição do Fórum Ambienta

Clima, cultura, comunicação e bem viver foram os temas debatidos na 4ª edição do Fórum Ambienta, realizado na última quinta-feira, 02 de outubro, no Palacete Faciola, em Belém. O encontro – que também reuniu lideranças sociais, artistas, pesquisadores e ativistas – teve forte presença de comunicadores populares do Comitê das Baixadas de Belém, que levaram ao centro da conversa a importância da democratização da informação e do combate à desinformação ambiental.

 

O Fórum Ambienta faz parte do Festival Ambienta, sendo um espaço de diálogo e reflexões sobre questões ambientais, climáticas e sobre o papel da cultura na promoção da sustentabilidade. Na edição deste ano, que abordou o tema “Integridade da Informação e Soluções Populares para o Clima”, o encontro propôs reflexões sobre os desafios da crise climática e o papel da sociedade civil na construção de respostas criativas, interseccionais e enraizadas nos territórios.

 

Comunicação Popular na pauta climática

No 4º Fórum, os comunicadores do Comitê das Baixadas de Belém estiveram nas mesas de debates, trazendo mais exemplos de ações, mobilizações e soluções populares para o enfrentamento da crise climática, tendo como base as iniciativas desenvolvidas em seus territórios.

“Quando falamos em soluções, estamos falando de práticas reais, feitas nos territórios”, afirmou o comunicador Matheus Botelho, que atuou como curador do evento. Para ele, a comunicação popular mostra que é possível transformar o cuidado com o clima em ação coletiva. “É por meio do artivismo, das soluções climáticas populares e das iniciativas comunitárias que buscamos mostrar à população que, juntos, conseguimos encontrar caminhos e fazer a nossa parte, não apenas de forma individual, mas como parte de um coletivo maior”, pontuou.

 

Debates, arte e cultura no Fórum Ambienta

O evento iniciou com o Ato Poético “Por uma Amazônia Viva”, realizado pela artivista e maraqueira, Samara Cheetara, integrante da Associação Cultural Na Cuia, e Jam Bill, artista múltipla, educadora e brincante da cultura popular. Atravessando o espaço em cortejo com canto, poesia e elementos da natureza, a performance entrelaçou encantaria e saberes ancestrais em diálogo com a urgência do tempo presente. Em seus cantos, as artistas ecoaram histórias que denunciam os impactos da crise climática sobre a floresta e os povos que dela vivem e afirmaram a força dos povos da Amazônia.

 

A mesa “Artivismo e Soluções Climáticas Populares” abriu os diálogos do fórum, sendo composta por Maria Flor, designer de moda e ativista do coletivo Casa Cura; João do Clima, jovem ativista da ilha de Caratateua e conselheiro jovem da UNICEF; Aline Gama, comunicadora e educadora popular, integrante do Coletivo Miri (Castanhal); e Alex Soares, Assessor de agenda política na Palmares Laboratório-Ação. A mesa teve o objetivo de discutir como a cultura, a criatividade e as práticas comunitárias enfrentam os impactos ambientais de forma justa e inovadora.

 

A segunda mesa do encontro teve como tema “Integridade da Informação pelo Clima” e abordou os riscos da desinformação, do negacionismo e da concentração midiática, e como mulheres e pessoas trans da Amazônia têm protagonizado a luta pela democracia e pela justiça climática. A mesa foi composta por Paulie Amaral, comunicadora popular, gestora e ativista climática na Amazônia; Jessica Botelho, jornalista e pesquisadora; Flávia Ribeiro, jornalista e assessora de imprensa; e Juliana Mori, diretora editorial da InfoAmazonia.

 

Em sua fala, Paulie Amaral, integrante da Na Cuia e do Comitê de comunicadores populares, destacou a importância da construção coletiva e de manter a comunicação como ferramenta de resistência. “O que a gente tem de mais forte é a coletividade. É daí que vem a comunicação, e é daí que surgem as outras formas de construir juntos, e é justamente por isso que o sistema não quer que a gente esteja unido, porque sabe que quando a gente se une, alguma coisa acontece. A gente viu isso recentemente, com a manifestação contra a PEC da Blindagem (ou, como muitos chamaram, da Bandidagem). Muita gente foi às ruas, e esse tipo de mobilização é muito perigoso para quem está no poder”, frisou.

 

Além disso, para a comunicadora, a comunicação popular é mais que uma ferramenta de divulgação, ela é também uma estratégia de resistência diante das desigualdades: “A comunicação popular é esse ambiente seguro, de acolhimento e cuidado, onde nossas narrativas são valorizadas e não vivem em constante disputa, como é o que a gente enfrenta todos os dias”.

 

Durante a programação do Fórum, o público também acompanhou o Duelo pelo Clima, realizando entre os intervalos das mesas, com os rappers Moraes MV e Bruna BG, trazendo o debate ambiental para o universo do hip hop e das batalhas de rima.

O encerramento cultural ficou por conta do Grupo de Carimbó Africanos de Icoaraci, sob a liderança do Mestre Thomaz Cruz, celebrando a força da cultura popular amazônica como resistência e memória viva.

 

O Comitê de Comunicadores Populares das Baixadas de Belém, é iniciativa da Associação Cultural Na Cuia, e surge para fortalecer as vozes periféricas diante dos desafios sociais, ambientais e culturais da Amazônia. Inspirado na tradição histórica dos comitês de comunicação popular, o movimento reúne jovens, artistas, comunicadores, indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e pessoas LGBTQIAPN+ que vivem e produzem na região metropolitana de Belém do Pará.

 

O Comitê promove formações técnicas e políticas, articulando comunicação popular, jornalismo de causa e incidência territorial. O projeto atua no enfrentamento ao racismo ambiental com a defesa dos territórios amazônicos e na ampliação da presença midiática de base comunitária, formando uma nova geração de comunicadores comprometidos com as pautas da COP 30 e além dela, comunicadores que narram o futuro com o propósito de dar visibilidade às lutas por justiça climática e social e preservar as culturas e saberes ancestrais.

 

Redação: Lírio Moraes, Na Cuia

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